USO DE PENAS PARA DETECÇÃO DA CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO EM COLÔNIA DO PETREL-GIGANTE-DO-SUL (Macronectes giganteus)

Dayana Almeida da Silva1, 2, 3, Erli S. Costa1, 3, 4, Adriana Pessoa1, Larissa Cunha1, Maria Alice S. Alves3, João Paulo M. Torres1 & Olaf Malm1

Originalmente apresentado no Simpósio Brasileiro de Pesquisa Antártica (SBPA), 21 a 23/09/2011, Universidade de São Paulo, São Paulo.

1. Laboratório de Radioisótopos Eduardo Penna Franca, Centro de Ciências da Saúde, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), CEP: 214941-900, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ.

2. Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), CEP 23890-000, Seropédica, RJ.

3. Laboratório de Ecologia de Aves, Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524 - Maracanã, CEP 20550-011, Rio de Janeiro, RJ.

4. Programa de Pós-Graduação em Ecologia, UFRJ. Caixa Postal: 68.020, CEP: 21.941-540, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ.

E-mails: dayanagrayce@hotmail.com, erli_costa@yahoo.com.br

 

INTRODUÇÃO: As aves marinhas são consideradas boas indicadoras de contaminação ambiental, pois são predadores de elevado nível trófico e podem indicar o estado de contaminação da cadeia alimentar (Walsh 1990; Barbieri et al. 2007). Métodos não invasivos de análise como, por exemplo, a determinação de contaminação através de penas, têm sido muito utilizados, pois o estudo é feito com perturbação mínima ao animal.. O Petrel-gigante-do-sul (Macronectes giganteus) é uma ave marinha de hábitos pelágicos que vai à terra quase que exclusivamente para reprodução (Harrison 1983, Birdlife International 2004). Ainda assim, nessa época os adultos chegam a procurar alimento no oceano, sendo que as fêmeas se afastam mais da colônia que os machos, que costumam procurar por carcaças em áreas próximas as colônias (González-Solís 2004). A distribuição da espécie é circumpolar no Hemisfério Sul e as principais colônias reprodutivas encontram-se nas Falklands (Malvinas), Geórgia do Sul, Sanduíche do Sul, Orkney do Sul, Shetland do Sul, Bouvet (sem registro recente de reprodução), Príncipe Eduardo, Marion, Crozet, Kerguelen, Heard e Macquarie; e também ao sul do Chile, costa e península Antártica, Terra de Adélia, ilha de Windmill e Terra de Enderby (Shirihai, 2008). Fora do período reprodutivo migram por longas distâncias chegando, por exemplo, ao Brasil, Oceano Índico, Fiji, Polinésia Francesa, Madagáscar, Moçambique, Namíbia, Nova Zelândia, Ilha de Norfolk (Austrália), Pacífico, Peru, Reunião (França), Seychelles e Uruguai. A mobilidade das aves marinhas pode ser uma desvantagem quando queremos utilizá-las como bio-indicadores em escala local e restrita, entretanto é uma vantagem se o objetivo é usá-las como bio-indicadores em escala global (Burger & Gochfeld 2001). Assim, devido a seus hábitos migratórios, o Macronectes giganteus é uma boa espécie para estudos relativos à análise de contaminantes em escala global. O presente trabalho teve como objetivo determinar o nível de contaminação por mercúrio em Petréis-gigantes-do-sul (Macronectes giganteus), da Baia do Almirantado, utilizando métodos de amostragem não invasivos; ou seja, análise de penas. MATERIAL E MÉTODOS: As amostras de penas foram coletadas na colônia de reprodução do Petrel-gigante-do-sul durante o período reprodutivo de 2010/2011 em Vaureal Peak, na Baía do Almirantado (Ilha Rei George, Shetlands do Sul). A colônia de reprodução tinha cerca de 50 casais. Penas de vôo e coberteiras (peito) foram coletadas ao redor da colônia, sem capturar os animais. As amostras de penas (coberteiras) foram separadas em massas de aproximadamente 1 g, lavadas com água destilada, EDTA solução (0,01%) e água Milli-Q e secas em estufa a 50ºC. Posteriormente foram picadas e separadas em três alíquotas com cerca de 0,025 g por amostra. O restante da massa foi guardado para outras análises. Foram preparadas e analisadas 30 amostras utilizando a metodologia descrita por Bastos (1997) para o cabelo humano adaptada para penas. Os níveis de mercúrio foram analisados no Laboratório de Radioisótopos Eduardo Penna Franca na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A recuperação em relação à amostra certificada foi de 93,87%. O teste de Tukey-Kramer foi utilizado para comparar a diferença entre as populações (para a mesma espécie) e entre os locais para espécies distintas. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os primeiros resultados indicam uma contaminação por mercúrio com valores médios (± desvio padrão mg/Kg) de 8,55 (±3,96 mg/Kg, para a população de Macronectes giganteus estudada. Os valores máximo e mínimo foram 17,21 e 2,96  mg/Kg, respectivamente, o que indica existir uma grande variação nas concentrações de mercúrio na população. Não há muitos estudos de contaminação por mercúrio para a espécie analisada. Na literatura encontramos apenas um artigo (Thompson et al. 1993) com resultados de contaminação por mercúrio, utilizando penas para análise da mesma espécie, que analisou amostras obtidas nas Ilhas Gough (n=8) e Marion (n=30) (Tabela 1). Para Macronectes halli, o petrel-gigante-do-norte os níveis de contaminação apresentados pelo mesmo autor são superiores, chegando a valores máximos de 56,53 mg/Kg. Comparando-se os dados entre as duas espécies (Teste t não-pareado) obtivemos resultados que indicam diferenças altamente significativas na contaminação por mercúrio em M. giganteus e M. halli (F=2,566; p<0,001). A contaminação por mercúrio para M. giganteus de Vaureal Peak diferiu significativamente das duas populações de M. halli: Ilha Marion (q=7,552; p<0,001) e Nova Zelândia (q=3,960; p<0,05). Para M. giganteus da Ilha Marion houve diferença entre M. halli da mesma ilha (q=5,621; p<0,01), mas não entre M. halli da Nova Zelândia (p>0,05) indicando que outros fatores além da área de ocupação influenciam na contaminação das espécies. As outras comparações não resultaram em diferenças estatisticamente significativas. Os valores superiores para M. halli provavelmente se devem a sua proximidade maior com áreas industrializadas durante os períodos migratórios. Devido ao pequeno número de referências com dados de contaminação por mercúrio para as espécies, bem como devido a grande diferença de datas entre as avaliações, é provável que outros fatores (além da localização das colônias, como por exemplo, redução da disponibilidade de mercúrio no meio ambiente devido a redução do uso do mesmo em áreas mais industrializadas) estejam influenciando os resultados. Há necessidade de estudos adicionais, específicos e de longa duração para entender melhor a dinâmica deste contaminante no ambiente e em relação às diferentes espécies, mesmo que próximas taxonomicamente.  

Tabela I. Dados de contaminação por mercúrio (Média ±SD mg/Kg) para Macronectes giganteus e Macronectes halli.

Espécies/Áreas

Macronectes giganteus

Macronectes

halli

Referências

 

n

Média

(±SD mg/Kg)

n

Média

(±SD mg/Kg)

 

Vaureal Peak

30

8,55 (±3,96)

 

 

Este trabalho

Ilha Gough

8

11,90 (±6,15)

-

-

Thompson et al. (1993)

Ilha Marion

30

11,38 (±6,40)

30

19,62 (±13,27)

Thompson et al. (1993)

Nova Zelândia

-

-

22

14,86 (±4,36)

Thompson et al. (1993)

 

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS: O presente trabalho contou com apoio financeiro do CNPq (MCT/CNPq: 557049/2009-1), FAPERJ (E-26/111.505/2010) e Mount Sinai School of Medicine (Grant 1D43TW0640 NIH) e logístico do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). DGAC recebeu bolsa de IC do CNPq, ESC bolsa de doutorado (141474/2008-4), MASA e JPMT receberam bolsa de apoio à pesquisa do CNPq (308792/2009-2 e 306003/2008-2, respectivamente) e MASA também recebeu apoio da FAPERJ (processo no. 26/102.868/2008).